"Já está visto que este lay-off é uma vigarice porque pela lei não pode ser feito quando há salários em atraso e dívidas da empresa à segurança social", denunciou Miguel Portas, paras quem a administração da empresa só está a recorrer ao lay-off para transferir as suas responsabilidades para a Segurança Social e para os trabalhadores, que ganham menos quando estão nesta situação.
Miguel Portas referiu-se a Vital Moreira, cabeça-de-lista do PS, que disse que quem não ficasse desempregado até poderia sair melhor da actual crise, desafiando esse candidato e o primeiro-ministro, José Sócrates, a irem à Platex verificar a situação e o desespero dos trabalhadores, que têm os salários em atraso e que no mês de Abril só receberam 300 euros cada um. "Vital Moreira denota apenas uma enorme insensibilidade social", acusou Miguel Portas.
Os trabalhadores da Platex (Indústria de Fibras de Madeira) estão desde segunda-feira dia 18 à porta da fábrica para impedir a entrada e saída de camiões com material e para exigir que lhes sejam pagos os salários do mês de Abril. A empresa parou a laboração a 11 de Abril por falta de matéria-prima, já que as madeireiras suspenderam os fornecimentos por falta de pagamento.
"Encomendas há e muitas", disseram os trabalhadores aos deputados bloquistas. Se há encomendas, equipamentos e trabalhadores, o problema só pode ser a má gestão, acusam os trabalhadores, que impediram a saída de oito carros topo-de-gama utilizados pelos administradores: "Não saem daqui enquanto não pagarem os nossos salários."
Uma delegação dos trabalhadores da Platex vêm a Lisboa esta segunda-feira para tentar reunir-se com os Ministérios do Trabalho e das Finanças.
Vinte e cinco anos na Platex
Entre os mais de 50 trabalhadores reunidos em frente à fábrica, Carlos chamava a atenção pelo ar desalentado e por estar acompanhado das duas filhas pequenas, uma delas às cavalitas. "Trabalho há 25 anos nesta empresa e nunca pensei que isto viesse a acontecer."
Operador de máquinas, Carlos corta as placas de contraplacado à medida e espessura necessárias, programando-as num computador. Tem prestação de carro e de casa para pagar, e não sabe que futuro o espera. Passou a noite em frente à fábrica e foi para casa de manhã, mas não conseguiu dormir e já está de volta junto aos camaradas de trabalho.
Recorda com amargura ter pedido a um administrador que pelo menos deixasse abastecer o carro com o gasóleo da empresa, descontando no salário que lhe devem (a empresa não garante transporte aos trabalhadores). "Ele respondeu: 'Este gasóleo só funciona com mercedes e peugeots'. Senti-me insultado", diz.
Carlos sempre se orgulhou de ter entrado na fábrica sem cunhas, apenas por mérito próprio. E diz ainda ter esperança. "Tenho de ter, senão por que estaria aqui?"
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