segunda-feira, 24 setembro 2012 18:31

O sonho possível

Contributo de Tiago Pinheiro.

Sonhamos todos o mesmo, ainda que com contornos diferentes. Todos nós pincelamos, ainda que com cores e em formas diferentes., sonhos, idealismos, fantasias.

Todos nós procuramos fantasiar sobre o perfeito, a felicidade interminável, a alegria impossível de beliscar, a música sem acordes desafinados.

Os sonhos no entanto fogem à possibilidade de concretização, afinal no mundo real, o perfeito é e será sempre uma utopia inatingível; aspiramos ao sonho possível, ao atingível, ao alcançável.

O mundo terá sempre pobres, assim o determinam as injustiças de décadas e séculos assim o determinam. O mundo terá sempre doentes, assim o exige o ciclo de vida. O mundo terá sempre conflitos, assim o define a nossa natureza egoísta, gananciosa.

Resignamo-nos ao possível, e o possível não será a perfeição, mas antes o justo. Pensamos um mundo de igualdade, não de pessoas, mas de oportunidades.

Pensamos num mundo onde o sucesso não seja definido pelo berço, pensamos num mundo onde o direito a ser cuidado não dependa dos bens possuídos, pensamos num mundo onde a oportunidade de aprender, de se instruir e crescer não seja estilhaçada pelo meio envolvente. Ousamos, sobretudo, acreditar num sentimento de que por entre o aleatório da vida, persiste um sentimento de justiça mínimo, de equilíbrio, de esperança para quem parte bem antes da linha de partida.

Assim nasce o pensamento de esquerda, construído por quem sonha com grandes executivos provenientes de meios menos favorecidos, com idosos desprovidos de quaisquer bens com os melhores cuidados de saúde, com cada criança a cumprir a sua escolaridade, venha de que meio ou contexto familiar vier, com pelo menos se garantir a todos, mesmo aos menos qualificados, a oportunidade de um emprego digno, na remuneração, no trato patronal e nas condições.

É este o socialismo que apaixona muitos, que move tantos para a luta, uma batalha contra os interesses de alguns, em prol da justiça para todos. Uma cruzada contra o preconceito de que a riqueza, de bens, conhecimentos ou saúde, está destinada ao encarceramento nas mãos de uns quantos, deixando os outros à deriva, suspirando por uma rara oportunidade fortuita. Uma campanha permanente para que se mantenha vivo o ideal de que o esforço compensa, que o mérito é reconhecido, e que não é inatingível qualquer hipótese de sucesso com base no empenho de cada um.

É este o esquerdismo que em Portugal continua a ser visto com desconfiança, ora pelo receio do extremismo do mesmo, que ganha forma no ideal comunista, ora pelo exemplo de leviano dado por esquerdistas apenas de palavras e não de acções (dos quais se encontra repleto o Partido Socialista).

O Bloco, congregando uma esquerda idealista, lutadora e intelectualizada, reaviva a perspectiva de uma sociedade justa que não se esgote na utopia; antes que se reinvente, que sonhe com uma igualdade sustentável, real, possível.

O panorama de Portugal acentua desigualdades; cada vez mais próximo do abismo que define o limite deste capitalismo que fomos escolhendo como nosso caminho, torna-se claro, que para evitar este último passo, serão tomadas todas as medidas por quem o defende.

Urge reavivar a luta por direitos e conquistas sociais sob pena de mais uma vez o interesse de alguns, a ditadura de poder de uns quantos, se sobrepor à liberdade da maioria.

Sob pena de todas as conquistas de Abril serem perdidas, sob a flagelação constante dos interesses económicos, a inércia popular continua a marcar o compasso da nossa sociedade, marchando a um ritmo monocórdico de acomodação.

Esta inércia, esta desresponsabilização de cada individuo no estado do seu país, conduzem a uma alternância de poderes, desde o 25 de Abril, entre uma reduzida estirpe de governantes. O descrédito do poder político é total, e quaisquer tentativas de vociferar mudança, esbarram na surdez de vontade de um povo que lutou pelo voto livre, para apenas escolher não votar.

A esquerda tem sido a voz de alternativa, apregoando a possibilidade de um estado justo, de um estado dos cidadãos e não dos interesses corporativos, de um estado governado por alguns para o interesse de todos e não um estado de alguns que o governam no seu próprio interesse. A esquerda tem sido a cor da revolta num quadro cinzento de consternação, tem sido a voz dos que querem entender as dívidas que dizem ser de toda uma nação, que quer perceber onde é investido o muito dinheiro que remete para os cofres do Estado, que se recusar a aceitar falsificação de habilitações, destruição duvidosa de documentos e tantos outros subterfúgios e beliscões à verdade e liberdade.

À esquerda restam, no entanto, 2 caminhos: o do crescimento ou o do desaparecimento. O exemplo grego mostra que quando a voz popular se levanta a esquerda floresce, renasce a sua filosofia fundadora de justiça social, de igualdade de oportunidades. Quando o medo do capitalismo feroz ou a simples acomodação é a melodia que mais alto se escuta, então a esquerda definha, sob o olhar rejubiloso de um poder corporativo que de cada direito essencial pretende fazer um negócio.

Assim, cabe à esquerda, ao nosso Bloco, mostrar que os murmúrios podem passar a gritos, que o descontentamento popular pode passar as paredes da alma de cada um. No entanto a esquerda tem de ser não a esquerda dos políticos, mas a Esquerda das pessoas; a alternativa sólida de um projeto de justiça sustentável.

Esta demonstração começa na construção do próprio partido, que antes de mais terá de se voltar não apenas para a realidade de ser uma aglutição de forças de esquerda, mas sim uma força homogénea. Os novos bloquistas, apoiantes ou aderentes, vão tendo pouca memória das forças geradoras do partido. Os novos esquerdistas são diferentes daqueles que conduziram o Bloco ao Parlamento, e urge regressar ao contacto com as vozes dos inconformados, a bandeira e sustento do idealismo e da mudança.

Urge voltar a ser a voz da diferença, dos que optam dizer presente e não se identificam com os partidos políticos da esfera da governação.

Urge voltar a ser emblema do combate político inteligente, com alternativas que não se esgotem na maledicência, antes que comprovem ser possível uma visão inovadora, diferente, colorida, distante do cinzentismo da política do interesse de alguns.

Numa altura de mudança, em que algumas das vozes de sempre procuram quem as possa substituir sob as luzes mais intensas dos holofotes, não importa discutir nomes, modelos ou méritos para fora, antes deixar para o íntimo do partido o debate. Para fora a mensagem tem de ser de uma esquerda lutadora, e não de mais um partido que mede egos, que mede ambições. Que não desfilem nomes, que desfilem ideias, todas com um mesmo sentido: a defesa do idealismo de esquerda, do socialismo da justiça para todos, intransigente na defesa das condições de trabalho, na gratuitidade do sistema de saúde, na igualdade de oportunidades, num estado justo e protector dos seus cidadãos.

O tempo esgotou-se para a luta intermitente; exige agora, acompanhando os vis e constantes ataques, um empenho a tempo inteiro, sem espaço para hesitações, para meses perdidos em discussões inúteis. À esquerda pede-se aquilo que não se tem pedido à governação: exigem-se explicações, afinal torna-se difícil, perante o bombardeamento de informação errónea, acreditar que a justiça social, que o mérito pelo esforço ainda são possíveis. Pede-se igualmente um desenho económico possível, um esboço social viável, um quadro de saúde sustentável. Pede-se para os capitalistas o impossível, pede-se para nós o sonho possível: uma sociedade justa, igual, construída para as pessoas e não para os interesses.

Homem, mulher, economista, médico, actriz, sociólogo… importante é acreditar, é estar impregnado em cada centímetro do seu âmago com a ambição da igualdade, com a coragem dos apaixonados pelos direitos sociais, é acreditar que não há sonhos perfeitos, há sonhos possíveis, e a luta por eles está ao nosso alcance, que a concretização deles é uma esquerda unida, coerente e lutadora.

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