"Está a acabar o tempo dos 'dois do meio': é isso que queremos dizer quando dizemos que estamos prontos", explicou o dirigente bloquista, para quem "os dois do meio" (PS e PSD) estão cada vez mais nervosos. "Mas é no dia do voto que vamos ajustar as contas, porque estamos a estragar o jogo daqueles que dizem ‘ora governo eu, ora governas tu, ora governamos os dois'. É esse jogo que está a ser posto em causa pelo Bloco de Esquerda".
Miguel Portas lembrou o "grande favor" que o PS de José Sócrates fez a Durão Barroso ao dar-lhe os votos que precisava para ser reeleito presidente da Comissão Europeia. "O mesmo Durão Barroso que foi o porteiro da cimeira da guerra nos Açores", recordou.
Miguel Portas insistiu nas diferenças que separam o Bloco do PS, mas não do eleitorado socialista, citando a política de Vieira da Silva de aumentar a idade da reforma e diminuir as pensões, ao passo que o Bloco defende a reforma integral ao fim de 40 anos de descontos. Outra diferença citada pelo eurodeputado foi a "agenda escondida" de privatizações de José Sócrates.
O primeiro orador da noite foi André Beja, candidato do Bloco à câmara de Sintra, que destacou a contradição entre o lado romântico e turístico do concelho de Sintra, por um lado, e os problemas de pobreza, dificuldades de mobilidade, exclusão e guetização que atingem os mais pobres.
Rita Calvário, candidata a deputada pelo círculo de Lisboa, afirmou que o país não precisa de mais maiorias absolutas e de blocos centrais, e que o Bloco é a alternativa à "governação falhada de José Sócrates".
A deputada Helena Pinto lembrou a população trabalhadora e pobre que vive em Sintra, e recordou um estudo recente que mostra que há cada vez mais crianças pobres, mal alimentadas e que não gostam do bairro onde vivem. A deputada bloquista recordou ainda outro estudo recente da ONU que mostra que a fome tem aumentado no mundo e que já são 1.020 milhões de pessoas que passam fome no mundo. O mesmo estudo mostra que 1% do dinheiro gasto para salvar os bancos chegaria para acabar com a fome.
Francisco Louçã encerrou o comício, que começara com uma actuação dos Mercado Negro, centrando a sua intervenção na questão da saúde. Louçã começou por citar o programa do PSD, que refere que "na saúde é preciso garantir maior abertura ao mercado concorrência", ao mesmo tempo que dizia que o do PS quer manter "tudo na mesma" - por exemplo, a entrega da gestão dos hospitais públicos a privados.
Em seguida, Louçã citou dois ‘históricos' socialistas, António Arnaut e Manuel Alegre, para apoiar a sua argumentação: "Quero falar-vos de pessoas que não são do Bloco, que têm outra relação partidária que respeitamos por inteiro e sobre a qual não nos pronunciamos, mas que são também vozes independentes e pessoas que na experiência da luta e na preocupação da esquerda, trouxeram combate à defesa do SNS", disse. Citando o livro de Arnaut, "Serviço Nacional de Saúde, 30 anos de resistência", Louçã deu "razão" a este antigo ministro da Saúde: "Os princípios constitucionais não podem ser pervertidos, nem com o recurso a um sistema convencionado. Já aí está. Nem com um sistema de seguros de saúde. Já aí está. Nem com as parcerias público/privado ou outros tantos esquemas que só têm um objectivo, distorcer o modelo constitucional e abrir o caminho à privatização. Se há dinheiro para sustentar bancos falidos, também tem de haver para garantir um serviço público indispensável ao povo português. Tem razão", defendeu Louçã.
Louçã citou também o prefácio do livro, escrito por Manuel Alegre: "O Estado não pode ser privatizado nem demitir-se da responsabilidade de garantir a universalidade do direito à saúde, os serviços públicos não podem ser tratados como qualquer mercadoria", concluiu, apontando que "o voto no Bloco de Esquerda é a defesa da democracia responsável, é salvar o serviço público".