João Castro, do Laboratório das Ciências do Mar da Universidade de Évora, frisou que os impactos da poluição se estendem desde o ambiente marinho até ao homem, tendo especial incidência no tamanho do pescado, na confiança dos consumidores face à qualidade do peixe, a que acrescem os efeitos sobre o rendimento dos pescadores.
João Castro relembrou que a concentração de indústrias, desde o início do desenvolvimento do pólo industrial, não foi acompanhada da devida preocupação face ao tratamento dos resíduos e lançamento dos mesmos no mar. Relativamente à poluição marinha crónica, o investigador apresentou o exemplo da Ribeira de Moinhos onde a existência de um emissário submarino de esgotos representa um problema fulcral na região.
Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, esclareceu que a concepção da universalidade dos problemas ambientais constitui uma falácia, uma vez que as populações são afectadas de forma diferenciada e os problemas estão igualmente confinados no espaço e no tempo em que são produzidos, assumindo especificidades muito próprias.
A eurodeputada salientou que pese embora os sistemas de vigilância e de controlo ambiental estejam cada vez mais apertados, é a concepção do cidadão responsável pela sustentabilidade ambiental que preenche o discurso dominante, onde o enfoque das políticas é colocado a jusante do problema, mas não a montante. Neste sentido, nada é referido no que diz respeito aos próprios sistemas de produção e assiste-se à transformação dos cidadãos em consumidores verdes e a submissão das agendas políticas às agendas comerciais, avisou.
Marisa Matias defendeu que urge "integrar a vulnerabilidade das populações e dos territórios" nas relações entre questões ambientais e saúde pública, reforçando que "os problemas ambientais não são mais do que problemas sociais", facto que exige "várias escalas de intervenção".
A ancoragem dos problemas ambientais aos problemas e a justiça retributiva e de equidade das comunidades foram duas ideias lançadas à discussão pela eurodeputada.
José Carlos Guinote, engenheiro e candidato do BE à Câmara Municipal de Sines, relembrou as diversas visitas de José Sócrates enquanto deputado que contrastam com o anúncio do investimento num designado centro de excelência petroquímico a nível mundial, anúncio marcado pela ausência absoluta de qualquer palavra referente às consequências ambientais sobre as populações.
"Morre-se brutalmente de cancro em Sines", salientou o candidato do BE, anunciando a elaboração de um estudo epidemiológico, a desenvolver no espaço de ano, como uma medida essencial do programa eleitoral para o concelho, à semelhança do desenvolvido sobre os efeitos da cimenteira em Souselas ou de Canas de Senhorim.
O debate, moderado por João Madeira, número dois da lista bloquista à Assembleia Municipal de Sines, foi amplamente participado e constituiu a primeira iniciativa da campanha autárquica daquele concelho do distrito de Setúbal.