A reflexão teve inicio com o debate da questão "Que seres possuem Estatuto Moral?" ou seja, que seres possuem valor-intrínseco e têm direito a ser tratados com consideração e respeito, pois eticamente seria inadmíssivel tratá-los de determinadas maneiras (submetê-los a tortura, infligir-lhes sofrimento). Será que existe a obrigação de ter em conta os seus interesses e direitos sempre que tomamos uma decisão que os possa afectar?
A resposta a esta questão é fundamental na decidisão sobre a construção ou não de uma barragem que, apesar de favorecer as pessoas que seriam afectadas pela sua construção, através da criação de postos de trabalho e do desenvolvimento económico que potencialmente promoveria, levaria à destruição da flora e fauna da região. Neste sentido, Manuel João Pires apresentou aos participantes no debate uma breve síntese dos Paradigmas que enformam diferentes posições na relação da Humanidade com a Natureza.
O primeiro desses Paradigmas, infelizmente o dominante é a Ética Antropocêntrica que, através de uma análise critica , mostra ser o responsável pelo desenvolvimento de uma Crise Global do Ambiente ao considerar que apenas a espécie humana possui Estatuto Moral, pelo que os seus interesses pervalecem sobre quaisquer outros. Este Pardigma conduz a um Acto de Especismo, ou seja à discriminação com base na espécie.
Para além daquele, existe ainda o Paradigma da Ética Animal que defende o princípio da igualdade na consideração de interesses atribuindo a senciência como critério de consideração ética ou seja os seres dotados de senciência são os dotados de Estatuto Moral.
A superação destes dois Paradigmas é feita pelo Paradigma da Ética Biocêntrica que afirma a igualdade entre todos os membros da Comunidade Biótica, originando em situações mais extremas aquilo a que Aldo Leopold define como Deep Ecology. Os defensores desta teoria utilizam como princípio orientador a máxima "Pensar como uma Montanha".
Da análise e discussão desenvolvida durante o debate surgiu algum concenso à volta de um conjunto de príncipios nucleares da`Ética Ambiental sugeridos por Manuel João Pires: esta deve recusar o antropocêntrismo e alargar a esfera de consideração ética para além do Universo Humano reconhecendo noutras entidades valor intrínseco, deve ser uma ética da Alteridade ou seja do respeito pelo outro, implicará necessariamente uma preocupação com as gerações futuras e será ecológica contribuindo para um Desenvolvimento Sustentável.
A urgência da orientação da relação da Humanidade com a Natureza por este conjunto de princípios é bem visível na afirmação de Gilles Lipovetsky que constitui o título deste artigo.