António Costa sabe que os lisboetas ainda se lembram do que foi o papel de João Soares à frente da Câmara de Lisboa e de como foi desastrosa a última vereação PS/CDU. Também sabe que conhecem a actuação de muitas Câmaras PS por esse País fora. Os lisboetas até se lembram que a Bragaparques entrou em Lisboa trazida por João Soares.
O novo edil de Lisboa sabe que "encostar-se" a Sá Fernandes só lhe traz vantagens. Como dizia alguém, num destes dias, António Costa precisa de colar na lapela a foto do incorruptível Sá Fernandes para fazer esquecer os telhados de vidro do Partido Socialista em Lisboa. E no resto do País..
António
Costa sabia, portanto, que havia que fazer acordos à Esquerda.
Até porque o número dois do Governo até há
três meses, sabe que a dois anos das Legislativas de 2009 e com
as medidas anti-populares e de Direita que o Governo, até lá,
ainda se prepara para tomar (parece que a Felxisegurança
continua marcada ali para o Outono), o PS precisa de mostrar que
também é capaz de governar à Esquerda. Afinal, o
PS sabe que grande parte da sua base eleitoral é vitima das
suas medidas injustas, das suas perseguições
anti-democráticas e sabe que a Direita dificilmente tem tempo
de se refazer até 2009. O CDS perdeu o Vereador, perdeu o
líder parlamentar e a reentrada em cena de Paulo Portas foi um
desastre. O PSD vê o seu futuro ser decidido entre Marques
Mendes e Luis Filipe Menezes. O perigo virá, pois, da sua
Esquerda. Nada como tirar-lhe protagonismo e tentar amarrá-la
a não ser...oposição.
O acordo entre o PS e o BE foi um mau acordo para o Bloco de Esquerda. E para Sá Fernandes.
A ilusão de que é possível ser oposição no País e estar no Governo da capital com o Partido do Governo saiu cara ao PCP. O PCP deixou de ser a principal força de Lisboa que era aquando da primeira coligação com o PS e é hoje ultrapassado pelo PS, pelo PSD, por Carmona, por Helena Roseta e tem mais dois por cento de percentagem eleitoral que o Bloco de Esquerda. Os lisboetas não se contentaram em recordar a oposição do PCP a Mário Soares, a Cavaco, a Durão Barroso, a Guterres ou a Sócrates. Os lisboetas, quando vão votar para a sua Câmara, lembram-se do consulado de João Soares, da inércia e do desleixe que foram os últimos anos da coligação PS/CDU, dos seus negócios menos claros, das alianças do PCP com o PSD, por esse País fora e por essas freguesias fora e o PCP tem pago por isso em termos eleitorais.
Ter
a ilusão de que connosco pode ser diferente é
ingenuidade. Apresentar o exemplo do PCP como mote é
incompreensível.
Perdemos com este Acordo anos e anos de trabalho nas empresas. Perdemos com este Acordo todo o trabalho de oposição séria e consequente nas freguesias de Lisboa. Perdemos com este Acordo a imagem que temos construído de que há quem não se venda por acordos de intenções. António Costa não se compromete com datas. Não se compromete com prazos. Nós comprometemo-nos com datas e com prazos. Porque temos datas para Orçamentos e Planos e porque temos prazos para mostrar que somos capazes de fazer. Em minoria. Não temos um vereador em 7. Temos um vereador em, pelo menos, 9. Temos dois anos para mostrar o quê? Que Sá Fernandes pode ser um óptimo Vereador? Ninguém tem disso dúvidas. Já o tinha mostrado em dois anos.
Perdemos com este Acordo anos e anos em que nas empresas tentamos mostrar que há quem não troque princípios por pratos de lentilhas. Andámos a repetir aos nossos colegas de trabalho que este PS é um Partido de Direita. Que este Governo tem uma politica mais à Direita do que qualquer Governo de Direita ousou ter. Andámos anos a repetir que não fazemos acordos com partidos de Direita nem com Governos de Direita, como o PCP faz. Acabámos de fazer um acordo com um Partido de Direita que sustenta o Governo neo-liberal de Sócrates. Mais à Direita, do que algum de Direita ousou ser, repetimos. Em troca de um Acordo de seis pontos. Sem datas mas, sobretudo, sem nenhuma intenção de ser cumprido pela parte do nosso "parceiro". Porque não se pode ser ingénuo. Os acordos não valem só pelo que lá está escrito. Os acordos valem por quem os assina. De um lado, o Acordo será assinado por um homem sério. Do outro pelo representante do Governo Sócrates. António Costa até podia ter aceite o programa inteiro do Bloco de Esquerda para Lisboa e não, apenas, estes seis pontos de emergência, aos quais ainda fez algumas significativas exigências, como a retirada da frase "mantendo inteira liberdade de voto" na votação do Orçamento e Plano. Bastava lembrar que António Costa pertenceu ao mesmo Governo que se comprometeu perante os portugueses a criar 150.000 novos postos de trabalho ou a revogar o Código de Trabalho, para saber que não estamos perante pessoas de bem. Acordos só se fazem com pessoas de bem. A politica não é diferente da Vida.