O Presidente da República prestou declarações, durante a sua visita de Estado à Índia, apoiando a flexisegurança. Embora tenha respondido que estava apenas a defender um modelo teórico, Cavaco Silva não pode fingir que não sabe que foi o executivo de José Sócrates quem primeiro defendeu a hipótese de seguir este modelo no nosso país.
Ao contrário do que afirmou Cavaco Silva, o Presidente da República não defende modelos teóricos de protecção social. Em virtude da função que ocupa, as suas palavras serão sempre, como é normal, encaradas como um sinal para o Governo. Cavaco Silva sabia-o, e sabia-o quando defendeu um modelo que tem sido uma das principais bandeiras do Compromisso Portugal.
Não se pode separar a discussão sobre um modelo de protecção social e a prática seguida pelo Governo que o pode aplicar. Um ano e meio depois de ter tomada posse, todas as medidas do executivo apontam para o aumento da insegurança - novas regras para o subsídio de desemprego - e para a diminuição da protecção social - aumento da idade da reforma e diminuição das reformas. A flexisegurança da "cooperação estratégica" arrisca-se mesmo a ser isto: flexibilidade máxima para segurança mínima.
No país com os piores salários e reformas da Europa e a maior percentagem de trabalhadores precários, a defesa que fez da flexisegurança é mais um sinal do entendimento que o Presidente da República tem da "cooperação estratégica": apoiar o Governo em todas as medidas que liberalizem a economia, diminuam a prestação social do Estado e facilitem os despedimentos.