Poder-se-ia dizer que essa crise não é exclusivamente sua, uma vez que outras formações políticas, à direita e à esquerda, e o sistema político-institucional no seu conjunto vão sendo severamente atingidos pela abstenção e pelo desprestígio. No entanto, no que diz especificamente respeito ao Bloco não é possível ocultar que se trata de uma trajectória que se vem exprimindo em perdas de influência e abandonos individuais e de grupos de aderentes com implicações preocupantes.
O episódio mais recente é o abandono da Associação Fórum Manifesto, que decidiu em Assembleia Geral reunida no último sábado desvincular-se do Bloco de Esquerda, arrastando consigo a demissão de alguns membros da Mesa Nacional e outros aderentes. Esta atitude poderá ser criticável na medida em que enfraquece a luta por uma esquerda socialista, solidária e anticapitalista no interior de um partido que pretende ser renovador da própria Esquerda e, por isso, lamentamos o seu abandono.
Porém, consideramos que esta saída da Manifesto tem um significado qualitativamente diferente de outras uma vez que se trata de uma corrente fundadora do projecto Bloco de Esquerda e, por isso, coloca em risco o seu próprio contrato fundacional.
Os entendimentos acerca da saída de militantes não podem nem devem ser apagados ou menorizados na política de um partido, sejam eles ou não reconhecidos publicamente, como acontece com a Ana Drago. Eles devem merecer um debate aprofundado que permita corrigir erros e aprofundar a democracia interna, porque um partido não se constrói depurando-se. O Bloco foi e tem de continuar a ser um motor de transformação, para tal deve procurar apresentar-se como uma alternativa política credível e agregadora, que aprenda com os erros e que no combate pela transformação social e pelo socialismo seja capaz de encontrar em cada momento as convergências que contribuam para os alcançar.
Subscritores:
1. Adelino Fortunato
2. Albérico Afonso