É óptima a discussão aberta entre opiniões contrárias de bloquistas, mesmo quando tem lugar na tv ou nos jornais. No entanto, quando os instalados "comentadores" falam do Bloco de Esquerda como um todo, e até alegam crises internas (diabo!) convém perceber, é o mínimo, o peso das coisas e das pessoas. Os media não dão cartão de eleitor no Bloco, como se viu bem pelo "caso" Joana Amaral Dias. Felizmente há luar, mesmo quando passam cometas. Quem disse que o Bloco não é um partido diferente?”
Apenas li críticas públicas à moção de censura de pessoas ligadas às listas minoritárias com presença na Mesa Nacional, de Rui Tavares e de mim próprio. Como os primeiros já se mediram em votos na última convenção e o eurodeputado não é militante do Bloco de Esquerda, fico com a estranha sensação de ser um dos destinatários deste desafio. E sobre esse desafio tenho apenas quatro coisas a dizer:
1 – Que fico satisfeito por o camarada Luís Fazenda ter finalmente dado a cara pela moção de censura. Sendo membro da Comissão Política e deputado não pude deixar de sentir a sua ausência pública neste importante combate que o partido tem pela frente. Pena que se tenha ficado pelo Esquerda. Mas estou seguro que no próximo mês a direcção do Bloco lhe dará a mesma tarefa que deu aos camaradas Francisco Louçã, Miguel Portas, Ana Drago, João Semedo e José Manuel Pureza. Porque nos momentos difíceis o empenho de todos é fundamental.
2 – Que esta moção teve uma excelente oportunidade de ir a votos: a reunião da última Mesa Nacional, órgão responsável pela direcção política do partido entre convenções. Não deixa de ser extraordinário que depois do atropelo às regras democráticas do partido, que levaram a Comissão Política a decidir um acto desta importácia táctica e estratégica três dias depois da reunião de uma Mesa, sem que sequer o tema fosse abordado na mesma, se venham fazer desafios à intervenção democrática dos militantes nesta matéria. Digamos que o apelo vem tarde demais e devia começar por ser feito à própria comissão política. Como delegado à última convenção, elegi apenas a Mesa Nacional. Era ela, e não a próxima convenção, que devia ter sido chamada a decidir. Não o foi. Apelos para recolher vinte assinaturas para discutir uma decisão que já foi tomada são pelo menos bizarros. O camarada Luís Fazenda quer medir a força da sua posição depois de uma decisão ser tomada mas não achou necessário medir argumentos antes de tomar a decisão. Por mim, prefiro a clareza da democracia interna a lutas de facções. E se houve quem tomasse posições públicas talvez seja porque a direcção achou que o debate interno era dispensável
3 – Que não me recordo de, na última convenção do partido, ter aprovado nenhum documento que apontasse para a apresentação de uma moção de censura desta natureza. E por isso não consigo perceber quando terá ido esta opção a votos. A não ser, claro, que esta moção de censura tenha como objectivo uma clarificação interna e que este estranho parágrafo do camarada Luís Fazenda, que substitui a força do argumento pelo argumento da força, apenas queira clarificar essa vontade de separação de águas. Só assim se compreende que o camarada veja a critica a este gesto político como razão bastante para a apresentação de uma moção contra a da lista da direcção. E se é esse o objectivo, devolvo o desafio: que o camarada Luís Fazenda avance com teses próprias, explicitando essa clarificação política interna que aparentemente deseja.
4 – Não fazia ideia que a camarada Joana Amaral Dias (que até apoiou publicamente esta decisão do partido) tinha um “peso” diferente de qualquer outro militante. Se se trata de um “cometa”, será tanto como o camarada Luís Fazenda ou qualquer membro do partido. O Bloco não tem donos nem notáveis e as críticas de qualquer camarada, acertadas ou não, valem exactamente o mesmo. A referência à camarada Joana Amaral Dias, completamente a despropósito do tema, e sabendo-se que nunca a direcção assumiu qualquer tipo de problema com esta militante, é no mínimo deselegante. De resto, como nenhum órgão eleito em convenção foi auscultado nesta matéria, o peso de cada posição sobre o assunto é uma incógnita e o camarada Luís Fazenda limita-se a partir do princípio que a posição que defende é maioritária. É sempre um mau princípio num partido democrático.
Seguro que, tendo passado o site oficial do partido a ser usado para desafios internos a militantes do partido, estará assegurado o direito ao contraditório, solicito a publicação desta resposta.
Saudações bloquistas
Daniel Oliveira