Desde o passado fim de semana, o governo tem dedicado parte da sua actividade a emitir sucessivos comunicados contra o Bloco de Esquerda. Por cada situação de promiscuidade entre interesses privados e serviços públicos denunciada pelo Bloco nos últimos dias, surgiu um comunicado do respectivo ministério. Mas o mais estranho é que os comunicados acabam por confirmar tudo aquilo que o Bloco diz. Leia aqui a nota de imprensa emitida pelo Bloco.
Nota de imprensa do Bloco de Esquerda
Bloco de Esquerda responde a falsos desmentidos do Governo
O Governo parece ter-se especializado, nos últimos dias, a desmentir o Bloco de Esquerda em comunicados de imprensa que, estranhamente, confirmam as acusações feitas pelo Bloco de Esquerda.
1. Na sexta-feira, o Ministério da Saúde desmentiu as afirmações de Francisco Louçã, num comunicado onde confirma que autorizou o Coordenador para as Doenças Cardiovasculares a exercer o cargo de consultadoria na empresa Hospitais Privados de Portugal. Em declarações à Antena 1, o próprio reconhece que tem funções no Hospital Lusíada e que está coordenar a aquisição de material e contratação de pessoal para esse hospital. O Governo não encontra nenhum problema em atribuir um cargo para “liderar a estratégia do Ministério da Saúde” e “implementar a rede nacional de doenças cardiovasculares” a um profissional que exerce funções num dos principais grupos privados interessados na gestão dessa mesma rede. O Bloco considera que existe aqui um problema político.
2. No mesmo dia, o Ministério da Educação garantiu que o Comité de Direcção do projecto “Media Smart”, que será presidido pelo director-geral da Nestlé, terá uma função basicamente de financiamento e que existe um grupo de peritos, coordenado por Roberto Carneiro, que responde pela sua qualidade pedagógica. Sucede que, como refere a notícia da Lusa sobre a apresentação do projecto, o Comité de Direcção terá outras funções, nomeadamente “assegurar a correcta implementação do projecto no terreno”. Sobre quem manda no programa, basta verificar que, até agora, a única entidade que respondeu publicamente ao requerimento que o Bloco apresentou ao Ministério da Educação sobre este programa, foi a secretária-geral da Associação Portuguesa de Anunciantes, Manuela Botelho.
3. O governo respondeu ontem, outra vez em comunicado, às declarações de Francisco Louçã criticando as pressões do Governo para permitir o aumento da quota de extracção da pedreira da SECIL em pleno Parque Natural da Arrábida. O Ministério do Ambiente diz que Louçã fez “falsas declarações” e que se pronuncia sobre uma “fantasia”, pois “não está em causa o aumento de área licenciada mas sim a exploração em profundidade”.
Mais uma vez, desmentindo o que considera uma fantasia, o Governo confirma as acusações do Bloco sobre o aumento da quota de extracção que o governo se prepara para autorizar, apesar do voto em sinal contrário da direcção do Parque Natural da Arrábida.
Diz o secretário de Estado do Ambiente, quem sabe fantasiando, que foi este Governo quem limitou o desenvolvimento das pedreiras com a aprovação do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida. Humberto Rosa deve estar esquecido, mas talvez valha a pena lembrar que, em 2003, o Governo PSD/PP ordenou uma discussão pública sobre o novo Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA). Este documento previa a proibição do aumento da capacidade das pedreiras no Parque Natural da Arrábida, em extensão e em volume de extracção. Em 2005, e sem realizar nenhuma consulta pública, o Governo PS aprovou o novo POPNA, prevendo apenas a proibição do aumento da área licenciada, mas permitindo já o aumento da exploração em profundidade. O Governo quer fazer crer que, permitindo o aumento de 60 metros na exploração em profundidade, está a limitar o desenvolvimento das pedreiras na Arrábida. Para quem acusa os outros de fantasia e falsas declarações não está nada mal.
